O Desgraçado

Eu sou ateu.

Fico surpreso com como pessoas ao meu redor podem se surpreender com esta revelação – creio que meu “bom comportamento” e grande interesse em religião me fazem parecer um bom católico; o que eu consigo compreender.  Mas enfim: eu sou ateu.

Alguns anos atrás, a súbita descoberta do meu ateísmo deixou um colega estarrecido, e o seguinte diálogo aconteceu:

Colega: Mas você nunca sentiu a presença de Deus? Em algum lugar, em algum momento?
Eu: Não.

Este “Não” foi uma resposta rápida e impulsiva, mas a pergunta me corroeu ao longo dos próximos dias. Me fez notar que não, de fato eu nunca tinha sentido a presença de Deus, e não por falta de ter tentado.

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Jogos, Sexismo e GamerGate

Existem um monte de pessoas sexistas na internet que ficam por aí atacando mulheres? Sim.
Algumas destas pessoas se designam como parte do GamerGate? Sim.
Em função disso, gamers e sua comunidade são em geral sexistas? Não, pelo menos não mais que todo mundo.

Gamergate é uma controvérsia/movimento sobre sexismo, agressão e corrupção jornalística na cultura de jogos. Recentemente, após um período de relativo silêncio, a deselegância com membros femininos da comunidade tem recomeçado. Isso acaba gerando uma impressão bastante negativa sobre a comunidade de jogadores, e muito tem sido dito sobre isso. Não é minha intenção negar a existência dos problemas, ou desprezar suas consequências ou a indignação ante estes; mas acho que a natureza demográfica dos gamers diz mais sobre suas predisposições sexistas do que estes episódios específicos.

Jogos não são mais ofensivos ao feminismo do que livros ou filmes; e são tão populares atualmente que qualquer tentativa de generalização – “gamers são X” é o equivalente de dizer “pessoas são X”. Neste caso sim, boa parte das pessoas é sexista; logo, gamers o são. Na verdade, possivelmente são um grupo menos sexista que a sociedade em geral, por ser bem dividido sexualmente (52/48% homens/mulheres), e mais jovem que a população em geral. Há uma correlação forte entre idade e feminismo (mais do que com gênero – ou seja, homens jovens são mais feministas que mulheres de meia-idade), então acho bem seguro dizer que o “gamer médio” é menos sexista que a “pessoa média”.

De fato, isso é atestado pela polêmica gerada por estas questões sexistas – gamers tendem a ser mais ofendidos por elas do que o público em geral.

Jogos também tem uma chance bem mais razoável de utilizarem personagens femininos adequadamente. A esmagadora maioria dos filmes falha no Bechdel Test, mas um número razoável de jogos passa; e alguns até possuem protagonistas femininos. Além disso, como jogos não necessariamente são narrativos, é fisicamente impossível que alguns sejam sexistas – certamente Journey, Demon’s Souls ou Tetris não passam no Bechdel Test, mas isso não me parece uma preocupação válida.

Para mais informações demográficas sobre gamers, recomendo este documento.